sexta-feira, 24 de maio de 2013

JARDINEIRA - E O CARNAVAL EM VARRE-SAI



JARDINEIRA

Interpretação: Orlando Silva
Composição: Benedito Lacerda - Humberto Porto 



Ó jardineira, por que estás tão triste?

Mas o que foi que te aconteceu?


- Foi a Camélia que caiu do galho

Deu dois suspiros e depois morreu
Foi a Camélia que caiu do galho
Deu dois suspiros e depois morreu.

Vem, jardineira,

Vem, meu amor,
Não fiques triste 
Que este mundo é todo teu
Tu és muito mais bonita 
Que a camélia que morreu...




      Até hoje se ouve esta antiga marchinha no carnaval... 
      Conta minha mãe que a ouviu, pela primeira vez, na cidade de Tombos, MG,  quando tinha treze anos... Em 1939, portanto. Lá, o carnaval de rua era bastante animado, com carros alegóricos e tudo o mais.
       Até há algum tempo (bastante tempo, na verdade), acontecia, anualmente, concurso de músicas para o carnaval. Assim, a cada ano, o povo se alegrava e brincava o carnaval cantando novas músicas...
       Hoje, o que ocorre é a execução de sucessos antigos, principalmente "Jardineira" e "Abre Alas" (da Chiquinha Gonzaga).
        Tudo passa... Tudo muda...
        O forte, já há alguns anos, é o samba-enredo das Escolas de Samba. O inconveniente é que a letra é muito longa.
       Importa mesmo é que haja carnaval e que o povo possa distrair-se, dançar, cantar. 
        Festas do gênero oferecem ao "povão" a oportunidade de mandar "às favas" o estresse.
        É um direito e uma necessidade que o cidadão tem: alegrar-se. Não importa a que classe social pertença.
        Nas cidades pequenas, nada mais é promovido no período carnavalesco. A maioria das pessoas correm para as praias. Fazem muito bem... 
        Há que se atentar, porém, para o fato de, embora a cidade parecer "vazia", muitos permanecerem em casa. Basta algum "barulho" para que as pessoas surjam ávidas para aproveitar o momento.
        Na minha cidadezinha, havia o Elso Braga, esposo de Regina Abib Vargas, que "improvisava", todos os anos, uma bandinha. Que saudades!
        A bandinha assumia ares majestosos e arrastava atrás de si muita gente, incluindo os "mascarados"... Não pode faltar os mascarados. Não pode faltar nada nem ninguém... 
        O pior é que, um dia, "faltou" o Elsinho... Aí, o carnaval de Varre-Sai deixou de existir.
        Bem que Elso Braga poderia interceder, lá em cima, pelo povo de Varre-Sai que amarga o silêncio reinante na cidade durante tais dias festivos!

  

quarta-feira, 15 de maio de 2013

NO FRIGIR DOS OVOS





Não é à toa que os estrangeiros acham nossa língua tão difícil! Como a língua portuguesa é rica em expressões!

Achei interessante, porque demonstra o quanto o vocabulário "alimentar" está presente nas nossas metáforas do dia-a-dia. Aí vai: Pergunta:

- Alguém sabe me explicar, num português claro e direto, sem figuras de linguagem, o que quer dizer a expressão "no frigir dos ovos"?

Resposta: Quando comecei, pensava que escrever sobre comida seria sopa no mel, mamão com açúcar. Só que depois de um certo tempo dá crepe, você percebe que comeu gato por lebre e acaba ficando com uma batata quente nas mãos. Como rapadura é doce, mas não é mole, nem sempre você tem ideias e pra descascar esse abacaxi só metendo a mão na massa. E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às favas.

Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de grão em grão que a galinha enche o papo.

Contudo, é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto, encher linguiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de que é necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe. Afinal, não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos.

Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e vai com muita sede ao pote. Mas como o apressado come cru, essa gente acaba falando muita abobrinha, são escritores de meia tigela, trocam alhos por bugalhos e confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão.

Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca e o queijo nas mãos, eles se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na maionese... etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate, enfiam o pé na jaca, e no fim quem paga o pato é o leitor, que sai com cara de quem comeu e não gostou.

O importante é não cuspir no prato em que se come, pois os leitores não são farinha do mesmo saco. Diversificar é a melhor receita para engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos, literalmente.

Por outro lado, se você tiver os olhos maiores que a barriga, o negócio desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar sobre o leite derramado, porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua empadinha, não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é uma banana, afinal pimenta nos olhos dos outros é refresco.

A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir plantar batatas, mas quem não arrisca não petisca, e depois, quando se junta a fome com a vontade de comer, as coisas mudam da água pro vinho.

Embananar-se, de vez em quando, é normal, o importante é não desistir, mesmo quando o caldo entornar. Puxe a brasa pra sua sardinha, que no frigir dos ovos a conversa chega na cozinha e fica de se comer rezando. Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata engorda.

Entendeu o que significa “no frigir dos ovos”?


OBS.: TEXTO RECEBIDO POR E-MAIL

sexta-feira, 3 de maio de 2013

O TREMA SE DESPEDE



      Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüenta anos.

     Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!...

     O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. Os dois pontos disse que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.

     Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?... A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K e o W, "Kkk" pra cá, "www" pra lá.

     Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!...

     Nós nos veremos nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.

     Adeus,
     Trema.



Obs.: Texto recebido por e-mail.