Quando minha avó paterna, Maria Emília Silveira Sobreira ainda era viva, eu, jovem ainda, não tinha muito interesse pela história da família.
Conhecida por Maria Sobreira, era a filha caçula de Capitão Alexandre Inácio da Silveira, português que residiu em Varre-Sai no século XIX, tendo sido seu primeiro Juiz de Paz quando o local foi elevado a Vila.
Sempre soube da devoção da família por Santa Filomena.
Capitão Alexandre Inácio da Silveira, meu bisavô, retornou a Portugal pelo menos uma vez. Foi quando trouxe consigo a antiga imagem de Santa Filomena que, atualmente, voltou a ocupar o seu lugar na Capela a Ela dedicada em Varre-Sai. Por muitos anos esteve sob a guarda de dona Neguita (Filomena Pires de Almeida), neta de Adelina Silveira Pires e bisneta do Capitão Alexandre. Comentavam que a imagem foi retirada da Capela porque havia dúvida quanto à história de Santa Filomena. O povo dizia desconcertado: "foi cassado o título da Santa". Lendo, agora, sobre Santa Filomena, por Padre Rogério, da Paróquia de São Sebastião/Varre-Sai, entendi melhor.
Através de Elza Gorini, que não era da família nem varre-saiense, mas tinha grande interesse por tudo que se referia a Varre-Sai e tudo guardava na sua fantástica memória, ouvi sobre Santa Filomena e sua devoção em Varre-Sai.
Capitão Alexandre e sua família reunia-se para as orações da tarde, diante da imagem de Santa Filomena, na sala de sua Fazenda, no lugar denominado "Vai e Volta", Município de Varre-Sai. O espaço, aos poucos, foi ficando pequeno pois os vizinhos começaram a participar também. Foi providenciado outro local junto à sede da Fazenda.
Com a construção da Capela de Santa Filomena, em Varre-Sai, a imagem foi trazida da Fazenda do Capitão Alexandre, em procissão, para a inauguração e a primeira festa. Foi por volta de 1905. Dona Albertina Machado Vieira, neta do Capitão Alexandre por parte de pai, participou da procissão e dizia ter 05 (cinco) anos de idade e que veio vestida de virgem. E "ela havia nascido em 1900", emendava Elza Gorini. É possível que alguém da família de dona Albertina saiba mais a respeito.
Após os festejos, em 10 de agosto de 1905, a imagem de Santa Filomena retornaria à Fazenda. Foram feitas várias tentativas, dia após dia, devido à chuva constante e ao grande atoleiro que se formou. Até que entenderam que o lugar dela era na Capela onde está atualmente.
Durante muito anos, pensava que a Capelinha, em Varre-Sai, havia sido construída pelo meu bisavô. Certa vez, ouvi de Dona Antonica Lopes, filha do Capitão Chico Lopes, que houve participação de outros varre-saienses na construção. Não há como comprovar. Os antigos já se foram...
Tão pequena era que bem podia ter sido custeada por uma só pessoa!
Pequena que seja, foi nela que tive minhas primeiras aulas de Catecismo, ministradas pela Maria da Dona Joaquina - Maria Almeida Vargas (?). Também foi na sua escadaria que subi e desci vezes sem conta, com um peso da balança na mão direita ( daquelas balanças antigas, com dois pratos), para não ficar pisando na ponta do pé devido à sequela de pólio na minha perna. E deu ótimo resultado! Foi a minha fisioterapia...