sábado, 8 de março de 2014

A FLOR DO MARACUJÁ, de CATULO DA PAIXÃO CEARENSE




                     
                


 
Encontrando-me com um sertanejo 
  Perto de um pé de maracujá 
Eu lhe perguntei: 
Diga-me caro sertanejo 

Porque razão nasce roxa 

A flor do maracujá? 

Ah, pois então eu lhi conto 

A estória que ouvi contá 
A razão pro que nasci roxa 
A flor do maracujá 

Maracujá já foi branco 

Eu posso inté lhe ajurá 
Mais branco qui caridadi 
Mais brando do que o luá 

Quando a flor brotava nele 

Lá pros cunfim do sertão 
Maracujá parecia 
Um ninho de argodão 

Mais um dia, há muito tempo 

Num meis que inté num mi alembro 
Si foi maio, si foi junho 
Si foi janero ou dezembro 

Nosso sinhô Jesus Cristo 

Foi condenado a morrer 
Numa cruis crucificado 
Longe daqui como o quê 

Pregaro cristo a martelo 

E ao vê tamanha crueza 
A natureza inteirinha 
Pois-se a chorá di tristeza 

Chorava us campu 

As foia, as ribera 
Sabiá também chorava 
Nos gaio da laranjera 

E havia junto da cruis 

Um pé de maracujá 
Carregadinho de flor 
Aos pé de nosso sinhô 

I o sangue de Jesus Cristo 

Sangui pisado de dô 
Nus pé du maracujá 
Tingia todas as flor 

Eis aqui seu moço 

A estoria que eu vi contá 
A razão proque nasce roxa 
A flor do maracujá. 



Catulo da Paixão Cearense