domingo, 1 de dezembro de 2013

AIDÉTICO.




      Decididamente, nada neste mundo acontece por acaso. E "d
e todo mal se tira um bem" - é verdade mesmo.
      Conheci Joel, ex-segurança no Rio de Janeiro e lutador de capoeira ou algo assim. Ao conhecê-lo, meus conceitos e preconceitos viraram de pernas para o ar.
      Tudo começou quando me encontrei com uma senhorinha que se tornara conhecida devido aos cumprimentos que trocávamos durante minha caminhada matinal, em Natividade, RJ. 
      Falou-me de um rapaz morador ali do bairro e que estava com problema no pulmão. Convidou-me para ir até à casa dele.
      A casa era localizada atrás do antigo Forte dos Pneus, perto do Hotel Moacir. Estava toda fechada e o silêncio reinava, apesar de haver crianças. A esposa, uma jovem baiana, tão bonita e tristonha, levou-nos até o quarto escuro onde se encontrava o marido.
      Na verdade, não vi o homem. Todo embrulhado em cobertores, encolhido, virado para o lado da parede, com algodão nos ouvidos. 
      Entre gemidos, pediu desculpas por não se virar porque conseguira, há pouco, encontrar uma posição mais confortável e que trouxera alívio ao seu corpo dolorido.
      Logo, logo fomos saindo. 
      Na varanda da cozinha, a esposa deixou a senhorinha ir adiante e contou-me em voz bem baixa: "Joel está com aids, mas falamos que é outra doença porque, se o povo daqui descobre, pode ser que tenhamos que sair às pressas".
      Havia muito preconceito no início. A população, desinformada, tinha medo do contágio.
      Acho que o início da epidemia de aids foi em torno de 1985. A doença estava restrita a dois grupos "de risco": homossexuais e usuários de droga injetável. Ainda não estava disponível, como hoje, todo o tratamento fornecido pelo Governo. 
      Voltei daí uns três dias. Fomos Lúcia, minha irmã, Sebastião Otithes, meu cunhado e eu. Combinamos que a visita seria nos padrões recomendados pela SSVP-Vicentinos.
      Joel estava "tentando" beber água. Não aguentava engolir o líquido... A mulher fazia massagem na região do esôfago e ele fazia nova tentativa. Que tristeza ver uma pessoa sentir dor para engolir água...
      Amarrara pedaços de corda em cada perna, acima do tornozelo, para aliviar suas dores. Superstição -  descobri depois.
      Falou-nos do seu trabalho no Rio de Janeiro, da cirurgia a que se submeteu, do sangue que precisou receber (e que deve ter sido a causa da contaminação), da Igreja em que se casou, ao lado do Shopping Rio Sul. Mandou a mulher pegar o álbum com as fotos do casamento. Um pequeno álbum desses que ganhamos ao revelar fotos. 
     Que dor atingiu meu coração! Que arrependimento!
     Até então, não me compadecia de nenhum caso de AIDS. "Procurou a doença", pensava eu.
     Visitar Joel e assistir a todo o sofrimento a que estava/está sujeito um aidético - eis a oportunidade que Deus me proporcionou para me tornar mais humana e mais tolerante em relação aos homossexuais que, naquela época, eram os mais vulneráveis à doença.





      
       

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

CAVALGADA EM VARRE-SAI



      Acabei de assistir, aqui em Varre-Sai, a uma linda cavalgada em comemoração ao Dia da Padroeira do Brasil - 12 de outubro.

      Impressionou-me o elevado número de cavaleiros. Soube, depois, que vieram de várias cidades da redondeza. Não é um acontecimento qualquer. A notícia corre e os cavaleiros vêm.  
     Enquanto passavam os cavaleiros, lembrei-me de certos acontecimentos e vim logo registrá-los.
     Em 1984, decidi que faria algumas excursões pelo Brasil. 
     Não iria muito longe, eu sei, nem sairia do País. Sou pobre. Não bastando ser de origem pobre, ainda escolhi uma profissão que não oferece oportunidade de "enricar": professora!
     Procurei Elza Gorini, então minha vizinha, hoje com novo endereço no outro mundo. Ela conhecia o Brasil de Norte a Sul e já repetira muitas excursões. Só viajava de ônibus. Tinha "cisma" de avião com certeza.
     Decidi que começaria por visitar o Santuário de Nossa Senhora Aparecida/SP. Assim o fiz.
     No ano seguinte, que lástima! Lá se foi meu sonho de viajar! Meu mundo caiu diante de um acontecimento que dividiu minha vida em "antes" e "depois": uma cirurgia. Ou melhor: o resultado da biópsia.
     Retornei à Aparecida/SP anos depois. Amei participar de uma romaria! Totalmente diferente de ir de carro próprio. O clima, já no ônibus, é de religiosidade.
     Adentrei o Santuário apinhado de fieis de toda parte. Não havia lugar nem para me encostar.
     Ah, Senhor, pelo menos livre-me do cansaço! Já não aguento ficar em pé por muito tempo e não vejo possibilidade de me sentar!
     Já recebeu de Deus uma resposta imediata a um pedido seu? Eu recebi. Experimentei, tão logo pedi, um conforto geral por todo o meu corpo. Totalmente descansada. Só que durou apenas uns minutos. Que pena?! Que nada! Ali ao lado, surgiu um lugar para mim...
      Era a vez de pedir por meu pai. Homem bravo, que me metia medo desde criancinha. Pouco me lembro dele brincar ou contar história, estas coisas. Cabeça dura. Já estava velho e não mudava. E havia muito o que mudar, pensava eu.
      "Meu Senhor, eu Lhe peço, com a intercessão de Nossa Senhora Aparecida, pela conversão de meu pai. Que eu possa vir aqui, no próximo ano, na companhia dele, para Lhe agradecer." 
     Ano que vem? Que nada. Naquele ano mesmo - 1994, em dezembro - meu pai começou sua peregrinação por médicos e remédios. Em fevereiro/1995, Dr. Tadeu diagnosticou "câncer de próstata".
      Lá se foi meu pai quando começamos a nos conhecer, entender, compreender...
      Não quis saber de pedir mais nada com a mediação de Nossa Senhora Aparecida. 
      Então veio mais um susto. Nódulo no seio. Surgiu seis meses após o início de reposição hormonal. Meu médico, Dr. Edyomar Vargas (que Deus o tenha!), jurava que era maligno.
      Já beirando a exaustão, decidi que deixaria Deus cuidar de tudo para mim. Deixei. Fiz a minha parte: consultas médicas e exames preparatórios. 
      Em oração e de olhos fechados, vi uma ponta do manto que cobre a imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, encontrada no Rio Paraíba do Sul, conhecida por nós, brasileiros, com o título de " Aparecida".
      Luciene, minha irmã, ficou muito surpresa quando partilhei com ela esta experiência. Perguntou-me a que horas aconteceu, etc. E me informou que, naquele dia e hora, ela e tia Memena (Filomena Sobreira Gonçalves), estavam pedindo a Deus por mim e com a intercessão de Nossa Senhora Aparecida.
      Foi para acabar com minha superstição que o Senhor permitiu-me visualizar a ponta do manto de Sua Mãe!
      
        
      

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO: "DEZ COISAS QUE LEVEI ANOS PARA APRENDER"




1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria “reuniões”.

8. Há uma linha muito tênue entre “hobby” e “doença mental”.

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se 
de que um amador solitário construiu a Arca. Um 
grande grupo de profissionais construiu o Titanic.



sábado, 12 de outubro de 2013

CASA ARRUMADA - AUTOR NÃO É CARLOS DRUMOND DE ANDRADE. É LENA GINO.









     Casa arrumada é assim:
     Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
     Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
     Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
     Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida...
     Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
     Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
     Sofá sem mancha?
     Tapete sem fio puxado?
     Mesa sem marca de copo?
     Tá na cara que é casa sem festa.
     E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
     Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
     Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
     Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
     A que está sempre pronta pros amigos, filhos, netos, pros vizinhos...
     E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
     Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
     Arrume a sua casa todos os dias...
     Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
     E reconhecer nela o seu lugar.
                    (extraído do Blog Lena Gino Mundo Paralelo)                                                                   http://mundoparalelog.blogspot.com

Obs.: O grifo é de minha autoria.


     Assim é a casa com que sonhamos.
     Impressionante a quantidade de vezes em que encontramos, na internet, a postagem do texto acima.
     Sinal de apreciação... Caiu no gosto do povo.
     Mais espantoso, ainda, é o fato de tão lindo texto ser atribuído a Carlos Drumond de Andrade.
     O estilo lembra, de fato, os escritos Drumondianos.
     Meio sem querer, achei uma reivindicação de autoria do mesmo.
     Muito interessante.
     Lena Gino, a verdadeira autora, se apresenta como tal e solicita seja feita a correção.
     Defende o que é seu tal como uma leoa com seus filhotes.
     Produção sua, ora!
     E a correção é feita, quase que imediatamente, através de um comentário no Blog Lena Gino Mundo Paralelo, na pagina "Casa Arrumada". Desculpas são pedidas de forma atenciosa e sincera.
     Enchi-me de curiosidade... Passei a pesquisar e
encontrei inúmeras outras postagens de Casa Arrumada, sempre citando Carlos Drumond de Andrade como autor.
     E agora, Lena Gino?
     Terá que fazer uma reivindicação geral...
     Se quiser, poderei ajudá-la. Afinal, um texto tão primoroso, tão gostoso, que diz tudo o que queremos falar, ficar assim sem lhe dar o crédito... 
     Em tempo: são maravilhosos os demais textos de Lena Giro que encontrei até agora! Nem a conhecia... Belo achado eu fiz.


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

DEMOCRACIA



     Considerando que a democracia é constituída pela "divergência de pensamentos", torna-se de primordial importância "o respeito pela opinião alheia".

     Concordar ou discordar da ideia de alguém é um direito de todos. Mas este direito implica no dever de respeitar o próximo porque ninguém é detentor da verdade. 

     Cada um tem seu próprio ponto de vista e suas razões.
Difícil é discutir serenamente com quem pensa e age diferentemente...

     Ouvir o outro com respeito torna-se o segredo de tudo.

     Se, na nossa casa, entre pais, irmãos e demais membros, existe a dificuldade de ouvir e respeitar a opinião uns dos outros, imaginemos como deve ser a tarefa de preservá-la em um País do tamanho do Brasil...

     Quanta disciplina e jogo de cintura está sendo necessária por parte da Presidenta Dilma Rousseff e demais autoridades diante das manifestações populares estourando pelo País!

     O povo tem que exigir. Não há outra saída. Não é possível ser recebido pelos políticos em quem se votou para fazer as reivindicações desejadas e necessárias.

     Pena que políticos de outras facções se aproveitem da situação e queiram levar vantagem... Ou, quem sabe, estejam até manipulando as multidões!

     Já experimentei situação assim. Durante dezesseis dias, assisti às sessões da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em 1975, quanto nossa capital era Niterói.
     Não consegui, sequer, aproximar-me do então Deputado Luiz Fernando Linhares! Eu tinha urgência urgentíssima...

     Penso que, se elegemos nossos representantes (Vereador, Prefeito, Deputado, Senador, Presidente da República), as manifestações devam ser realizadas exatamente nas proximidades dos locais onde os mesmos desempenham seus mandatos...
     Para que "ouçam" melhor!!!...




sexta-feira, 13 de setembro de 2013

DECÁLOGO DE ABRAHAM LINCOLN







· Você não pode criar prosperidade desalentando a iniciativa individual;

· Você não pode fortalecer o fraco debilitando o forte;

· Você não pode ajudar aos pequenos esmagando os grandes;

· Você não pode ajudar o pobre destruindo o rico;

· Você não pode elevar o assalariado pressionando a quem paga o salário;

· Você não pode resolver seus problemas enquanto gastar mais do que ganha;

· Você não pode promover a fraternidade da humanidade admitindo e incitando o ódio de classes;

· Você não pode garantir uma adequada segurança com dinheiro emprestado;

· Você não pode formar o caráter e o valor de um homem cortando-lhe sua independência (liberdade) e iniciativa;


· Você não pode ajudar aos homens realizando por eles permanentemente o que eles podem e devem fazer por si mesmos.



sexta-feira, 30 de agosto de 2013

ASA BRANCA - LUIZ GONZAGA




"Quando olhei a terra ardendo

Qual fogueira de São João

Eu preguntei a Deus do céu, uai

Por que tamanha judiação



Que braseiro, que fornaia

Nem um pé de prantação

Por farta d'água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão



Inté mesmo a asa branca

Bateu asas do sertão

"Intonce" eu disse adeus Rosinha

Guarda contigo meu coração



Hoje longe muitas léguas

Numa triste solidão

Espero a chuva cair de novo

Para eu voltar pro meu sertão



Quando o verde dos teus oio

Se espalhar na prantação

Eu te asseguro não chore não, viu

Que eu voltarei, viu

Meu coração."



Este é o nordestino Luiz Gonzaga, intérprete de Asa Branca, que ficou conhecido em todo o Brasil como o "Rei do Baião".





Esta é a ave "asa branca" que deu nome à canção composta por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.



O sertão nordestino é castigado com a falta de chuva. 


As dramáticas secas da região acontecem por duas

razões principais.


Primeiro: os ventos que refrescam o sertão não


conseguem trazer a umidade que causa chuvas nas 


áreas vizinhas, seja o litoral do Nordeste, o Sudeste do 


País ou a região amazônica.


Segundo: o semi-árido quase não tem lagos e rios 


volumosos, que poderiam induzir à formação de 


aguaceiros locais.





Até agora, o século XX foi um dos mais áridos, registrando nada menos que 27 anos de estiagem. A seca mais longa começou em 1979.
Na "terra ardendo qual fogueira de São João", 50% do gado morreu por falta d’água, a desnutrição explodiu e milhares de pessoas morreram de sede e fome. O verde da plantação só começou a brotar novamente com o retorno das chuvas cinco anos depois, em 1983.



A parte mais afetada pela falta de chuvas é o chamado Polígono das Secas, uma área de mais de 1 milhão de km2, espalhados por oito estados nordestinos (só o Maranhão fica fora) e pelo norte de Minas Gerais. Nessa região, não há rios caudalosos ou grandes lagoas capazes de fornecer umidade para provocar chuvas locais.



     À noite, enquanto tomava conta dos meus sobrinhos, Ricardo e Flávia (lá pelos idos de 1978), preparava as aulas que daria no dia seguinte.

     Em um dos livros didáticos que usava, havia a letra de ASA BRANCA para ser explorada na interpretação, estudo gramatical, etc. 
     Além do texto, havia uma bela ilustração que remetia à situação descrita: a pobreza, o sol ardendo, o homem a cavalo, a despedida...
     Um dia, cantarolei a música e o menino, sem desgrudar os olhos das ilustrações, pôs-se a chorar compadecido...
     Ricardo ficou de tal forma tocado em sua sensibilidade que nunca mais tive sossego... Tão logo tomava meu material de trabalho (professor trabalha muito em casa, sabe?) já ouvia seu pedido para olhar o livro e ouvir a música.
     Assim ele tomou conhecimento da triste situação experimentada pelos nordestinos nas regiões da seca...


     









domingo, 11 de agosto de 2013

CAUSA MORTIS : "ATAQUE DE BICHA"



     Antigamente, no registro de óbito de muitas crianças, "ataque de bicha" era o que constava como "causa mortis".

     Morriam de infestação de lombrigas ou, tecnicamente falando, de "ascaridíase".

     Ascaridíase é uma doença conhecida como lombriga ou bicha e é causada por um verme cilíndrico, chamado Ascaris lumbricoides.

     Esse parasita está presente em quase todos os países do mundo, principalmente nas regiões mais quentes e mais pobres.  Infecta homens e mulheres, em qualquer idade, porém as crianças são, com certeza, as mais atingidas.

     Ceres Sarmento Zambrotti contou-me que, pesquisando em um livro antigo de Registro de Óbitos, encontrou o fato acima.

     Ambas participávamos, na época (entre 1987 e 1999), da Conferência São José Operário, Sociedade São Vicente de Paulo, Paróquia Nossa Senhora da Natividade.
     Ceres (já falecida) era Escrivã do Cartório do Registro Civil de Natividade, RJ.

     Não é de se estranhar.

     Em cidades pequenas do interior do Brasil do início do século XX, não havendo médico, a "causa mortis" era fornecida pelo farmacêutico prático ou pelo próprio declarante.
     Posso dizer isto porque trabalhei, por vários anos, no Cartório do Registro Civil e de Notas de Varre-Sai, então Segundo Distrito do Município de Natividade. 

     Contam que era triste de se ver.

     Lombrigas saindo pelo nariz, ouvido, boca...
     Sucede que, se uma pessoa infestada por lombriga morrer, a tendência é que, devido à queda na temperatura corporal, os vermes comecem a sair por outros orifícios, além do ânus.

     Minha irmã, Lúcia Maria Sobreira Lopes, que está a meu lado, neste momento, lembra que assistiu a uma cena horrível dessas e que, até hoje, lhe causa pavor... 

     Estudante da Escola Estadual Dr. Miguel Couto Filho, ainda cursando o Ensino Fundamental (como é denominado hoje), pediu à professora para ir ao banheiro.
      Chegando lá, deparou com uma colega de outra série, que ainda vive em Varre-Sai/RJ, na maior luta com uma "bicha" vivinha da silva que saía, mas não saía, pela sua narina...  A danada ia e vinha. Grande batalha! Mas a garota, enfim, conseguiu segurar firme e puxar de vez a lombriga, grande e gorda, de uns dez a quinze centímetros de comprimento!
     Mais tarde, diz Lúcia, como professora do Jardim de Infância Norberto Marques, em Natividade, RJ, seu aluno disse-lhe:
     - "Tia, quero fazer cocô".
     Ela o levou ao banheiro, enquanto uma colega cuidava da turma para ela.
     Quando tirou o shortinho da criança, viu que não se tratava de fezes e, sim, de lombrigas fininhas e vivas em enorme quantidade e que lhe parecia "uma trouxa de barbante".
     Ela gritou pela diretora:
     - Marlene, me socorre!
     Marlene Ribeiro Pontes, a diretora, ajudou a cuidar da criança e acalmou minha irmã. Explicou tudo sobre o assunto que, para ela, não era novidade, pela sua longa experiência em Escola.
         
     No blog http://saudeafundo.blogspot.com.br, Wésley de Sousa Câmara esclarece que:


     "- Os tratamentos tradicionais de esgotos não eliminam os ovos da lombriga. Portanto, vão parar nos rios, o que aumenta a importância de consumir água bem tratada, filtrada ou fervida.

     - O congelamento não mata os ovos, assim, deve-se cozinhar ou lavar muito bem os alimentos congelados!

     - Higiene pessoal (lavar sempre as mãos e não colocá-las na boca).

     - Lavar bem as frutas, verduras e legumes.

     - Evitar o consumo de alimentos tratados com estercos animais.

     - Tratar os doentes, evitando que eles contaminem outras pessoas".


     Segundo Wésley, os sintomas podem ser:


     - "febre;


     - inflamação intestinal que leva à diarréia com muco e sem sangue;


     - cólicas intestinais;


     - má digestão;


     - emagrecimento e anemia (pois o verme consome parte dos nutrientes ingeridos);


     - obstrução intestinal (principalmente em crianças);


     - tosse;

     - aumento na produção de muco nasal;


     - pneumonia parasitária e crises asmáticas".





terça-feira, 30 de julho de 2013

MEUS OITO ANOS - CASIMIRO DE ABREU




Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!


Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!


Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!


Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!


Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus —
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!


Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!



É muito comum ouvir: deixa o passado para lá!
Pedro Nava, médico e escritor, diz em "Baú de Ossos", seu livro de memórias, que olhar para o passado é como dirigir um carro olhando pelo retrovisor.
Não olhemos só pelo retrovisor. Mas usá-lo é necessário.. Pode evitar acidentes. Tanto que, nas Escolas, estudamos História. História do Brasil e História Geral.
Do passado tiramos importantes lições!
Viver o hoje, sem se ater ao passado nem se preocupar com o futuro é um bom e sábio ensinamento.
Desprezá-lo, ignorá-lo, nunca olhar para o passado  é
 f-a-l-s-i-d-a-d-e  pura.
Não há quem não se lembre do seu tempo de criança. Por pior que tenha sido, é um tempo que nos traz saudades.  Saudades boas ou más, não importa...  
É um tempo de magia o da nossa infância. Quantos  sonhos! Mal sinal quando não os temos mais: é que a esperança se foi..


Oh! que saudades que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais! 







sábado, 20 de julho de 2013

HINO NACIONAL BRASILEIRO





Letra: Joaquim Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manoel da Silva

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu risonho e límpido
À imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.
Terra adorada
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil
Pátria amada,
Brasil !
Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos lindos campos têm mais flores;
" Nossos bosques têm mais vida",
" Nossa vida" no teu seio "mais amores".
Ó Pátria amada,
Idolatrada
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado
E diga o verde-louro desta flâmula
Paz no futuro e glória no passado.
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil
Pátria amada,
Brasil 


      No momento em que o Brasil está vivendo uma nova onda de amor à Pátria, há muito não visto, achei por bem divulgar o Hino Nacional.
      No meu tempo de aluna do Curso Primário, era cantado todos os dias, nas escolas públicas, antes do início das aulas.
      Na Escola Estadual Dr. Miguel Couto Filho, Varre-Sai, RJ, quem puxava o Hino era a Professora Elcy Salles Figueira possuidora de uma boa voz.
      Quando professora, no Colégio Estadual Flávio Ribeiro de Rezende, Natividade, RJ, havia um dia na semana em que alunos e professores (nós de jaleco) cantávamos juntos o Hino cuja execução ouvíamos em um toca-disco...
      Na condição de professora "aposentadíssima", não sei mais como acontecem as coisas nas Escolas. 
      Com as manifestações públicas acontecendo, sucessivamente, em todo o Brasil e o povo redescobrindo que "é o dono verdadeiro do poder", indo para as ruas cantando com empolgação não só o Hino Nacional, mas também o da Independência, é bem possível que novos ares de brasilidade alcancem as Escolas...


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Mário Quintana







Mário Quintana 


Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

A vida é feita, tão somente, de momentos.
Só admitimos esta verdade quando o tempo já passou.
Aí, olhamos para trás e concluímos que não demos o devido valor àquele momento.
Uma pena que não podemos retroceder no tempo.
Passou... Agora, só resta a lembrança. O que ainda é muito significativo.
Ah! Se pudesse abraçar e segurar para sempre certos acontecimentos, no instante preciso em que sucederam, lá na minha infância!

Eu nunca poderia imaginar que aquele foi um momento de felicidade!

domingo, 30 de junho de 2013

Clarice Lispector




     Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
     Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
     Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
     Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
     Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
     Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
     Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
     Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
     Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
     Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
     Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
     Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
     Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
     Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
     Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...
     Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
     Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
     Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
     Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
     Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
     

quinta-feira, 20 de junho de 2013

VARRE-SAI / VELÓRIO NO "MACUCO"




       "Macuco" é a denominação de um sitio localizado na zona rural do Município de Varre-Sai, RJ, Brasil.

       O velório era de um chefe para de família paupérrimo.
       O Governo Federal ainda não havia instituído a ajuda da "Bolsa Família" que beneficia a tantos! Há até os que a recebem indevidamente...
       Pobreza extrema. Cama? Que nada! Dormiam em esteiras colocadas no chão.
       Onde colocar o defunto? Não havia sequer um banco de madeira...
       Como era habitual em casos assim, fizeram dois buracos estratégicos em paredes da sala. Neles, colocaram dois bambus grossos que atravessavam a parede e ainda sobravam pontas para outro cômodo da casa.
      Sobre os bambus, colocaram uma tábua onde depositaram o corpo inanimado.
      O caixão ainda estava sendo confeccionado por Eliazar Gomes Primo que, muitas vezes, dava martelada noite a dentro até entregar o caixão.
      Era caixão de taipá. Madeira fraca, leve e barata, muita usada na época em construções para fazer andaimes. Forrava-se o caixão por dentro e por fora: de tecido branco, por dentro; de tecido roxo, por fora.
      O tecido roxo tinha estampas douradas ou prateadas. Era um tecido fúnebre mesmo. Dava arrepio só de ver um caixão destes...
      Conta-se que Eliazar bancava a despesa toda, na maioria das vezes. Só cobrava quando a família queria tecido melhor para revestir o caixão.
      Seus préstimos nunca foram negados. Tinha isto como uma missão.
      "Seu" Eliazar ainda tinha uma grande paixão: o Serrano Esporte Clube. Cuidava gratuitamente do gramado do "Estádio dos Eucalíptos" que, mais tarde, recebeu o nome de "Estádio Torino Fabri".
      Bem que podia ser nome de rua... Ou do estádio de futebol, caso seja necessário retirar o nome de Torino Fabri que, como Eliazar,  era um grande apaixonado pelo futebol.
      Dentre os presentes no velório, encontrava-se Antônio Barzani, então funcionário do posto de gasolina do senhor Bituta. Conta-se que ele não perdia um velório por nada...
      Lá pelas duas horas da madrugada, Antônio Barzani saiu sorrateiramente da sala. Desceu os degraus de uma escada de madeira da porta da sala. Retirou a escada.
       Voltou pela porta da cozinha. Sentou-se em uma das pontas de bambu que sustentava o corpo e que sobrava para o outro lado. Balançou pra lá e pra cá. O defunto, lá dentro, também começou a balançar.
       Antônio saiu rapidamente. Foi para a frente da casa ver o povo sair.  Deu boas gargalhadas. O pessoal saía feito doido, caindo da porta de onde fora retirada a escada! Voavam e caíam no terreiro... Eram os "machos" do velório!
      Não sei o porquê de "Barzani", já que Antônio era irmão de Gumercindo Alves Moreira. Só sei que ele tinha poucas e boas para contar... Já é falecido. Alguém mais deve conhecer outras de suas façanhas... São coisas que precisam ser contadas. Fazem parte da história de Varre-Sai...


sábado, 1 de junho de 2013

DOMINGOS JANNOTTI E O HOSPITAL DE VARRE-SAI, RJ



       Início da década de cinquenta em Varre-Sai

       Domingos Jannotti Netto toma uma decisão de suma importância para o povo de Varre-Sai: procura alguns senhores influentes, expõe-lhes uma necessidade local e sugere que se reúnam para tratar do assunto.
       Farmacêutico formado no Instituto Granbery, Juiz de Fora, MG, Domingos Jannotti Netto fez da sala de sua casa não só uma farmácia, mas também local de atendimento às pessoas doentes que vinham em busca de socorro, já que Varre-Sai, volta e meia, ficava sem médico.
      Quem fosse oriundo da zona rural, não tivesse onde se hospedar e necessitasse de cuidados por horas seguidas ou pela noite a dentro, permanecia na sua casa mesmo.
      O assunto tratado durante a reunião e exposto por Domingos Jannotti aos presentes (um deles era o tabelião José Vargas de Figueiredo) foi o seguinte: 

"alugar uma casa para abrigar os habitantes da zona rural que necessitassem permanecer por horas/dias na cidade para tratamento de saúde".
      
      Durante a reunião, alguém (ele citou o nome, mas não o encontrei na memória) sugeriu que fosse construído um hospital em Varre-Sai. 
       Ideia acatada e seguida de um movimento bem coordenado e executado com coragem, decisão, boa vontade e honestidade.
      Foi o próprio Domingos Jannotti Netto quem me narrou o fato acima e acrescentou que, para a lembrança não ficar perdida no tempo, escrevera tudo e deixara aos cuidados de Memélia/Amélia Vargas de Oliveira, filha de José Vargas de Figueiredo.
      Eis aí como surgiu o Hospital São Sebastião de Varre-Sai...
      Durante sua trajetória, enfrentou diversos vendavais, mas se manteve em pé! O povo sempre acorreu com sua contribuição às campanhas beneficentes para o Hospital.
       O que mais me encanta em toda a história é que Domingos Jannotti Netto nem nasceu em Varre-Sai! Nascido na Itália, chegou ao Brasil com cerca de 09 (nove) anos de idade.
       Tive a oportunidade de conversar assim com ele nas minhas viagens de fim de semana de Natividade a Varre-Sai. Ele, já bem idoso, por várias vezes regressando da casa de uma das filhas residentes em Bom Jesus do Norte, ES. 
      Um grande homem. Nunca teve pretensão de ser rico e, sim, de contribuir para o bem da comunidade. Ele mesmo o disse. Não tinha convívio tão grande com ele a ponto de deduzir isto ou aquilo a seu respeito. Só estou contando o que dele ouvi.
       Também participou da criação do Ginásio Varre-Sai (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade/CNEC), outro acontecimento de primordial importância para a cidade. E nos ensinou Matemática.
       Tinha ele um sonho. Recebia, anualmente, convite para a festa do Granbery onde se formara. Sabia o que acontecia nos encontros de ex-alunos: o ex-aluno tinha a oportunidade de narrar um acontecimento da época de estudante.
       Ele desejava ir lá, um dia, e contar um fato engraçado do qual se lembrava sempre. Ei-lo: durante o recreio, era comum ouvir o ensaio da Banda Marcial do Instituto sob a responsabilidade do músico/maestro "Brito".
      E a turma ficava gritando lá do pátio: "toca, Brito! Toca, Brito!"