"Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu preguntei a Deus do céu, uai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Para eu voltar pro meu sertão
Quando o verde dos teus oio
Se espalhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração."
Este é o nordestino Luiz Gonzaga, intérprete de Asa Branca, que ficou conhecido em todo o Brasil como o "Rei do Baião".
O sertão nordestino é castigado com a falta de chuva.
As dramáticas secas da região acontecem por duas
razões principais.
Primeiro: os ventos que refrescam o sertão não
conseguem trazer a umidade que causa chuvas nas
áreas vizinhas, seja o litoral do Nordeste, o Sudeste do
País ou a região amazônica.
Segundo: o semi-árido quase não tem lagos e rios
volumosos, que poderiam induzir à formação de
aguaceiros locais.
Até agora, o século XX foi um dos mais áridos, registrando nada menos
que 27 anos de estiagem. A seca mais longa começou em 1979.
Na "terra
ardendo qual fogueira de São João", 50% do gado morreu por falta d’água, a
desnutrição explodiu e milhares de pessoas morreram de sede e fome. O verde da
plantação só começou a brotar novamente com o retorno das chuvas cinco anos
depois, em 1983.
A parte mais afetada
pela falta de chuvas é o chamado Polígono das Secas, uma área de mais de 1
milhão de km2, espalhados por oito estados nordestinos (só o Maranhão fica fora)
e pelo norte de Minas Gerais. Nessa região, não há rios caudalosos ou grandes
lagoas capazes de fornecer umidade para provocar chuvas locais.
À noite, enquanto tomava conta dos meus sobrinhos, Ricardo e Flávia (lá pelos idos de 1978), preparava as aulas que daria no dia seguinte.
Em um dos livros didáticos que usava, havia a letra de ASA BRANCA para ser explorada na interpretação, estudo gramatical, etc.
Além do texto, havia uma bela ilustração que remetia à situação descrita: a pobreza, o sol ardendo, o homem a cavalo, a despedida...
Um dia, cantarolei a música e o menino, sem desgrudar os olhos das ilustrações, pôs-se a chorar compadecido...
Ricardo ficou de tal forma tocado em sua sensibilidade que nunca mais tive sossego... Tão logo tomava meu material de trabalho (professor trabalha muito em casa, sabe?) já ouvia seu pedido para olhar o livro e ouvir a música.
Assim ele tomou conhecimento da triste situação experimentada pelos nordestinos nas regiões da seca...