sexta-feira, 14 de outubro de 2011

MINHA VIDA DE MENINA, DE HELENA MORLEY




 Helena Morley (Alice Dayrell Caldeira Brant)




Conheci dois textos do livro "Minha Vida de Menina", antes de 1976, quando dava aula no extinto Colégio Cenecista João XXIII aqui em Varre-Sai.
Constavam do livro de Português adotado pela Escola e destinavam-se à interpretação, estudo do vocabulário, ortografia, etc.
Sempre os guardei na memória. Eram bons.
Um  dos textos relatava uma visita que a menina fizera a uma família amiga, na companhia de sua avó Teodora.
Helena (pseudônimo adotado pela autora), levou um grande susto quando a dona da casa serviu o alimento dentro de um objeto de louça (como uma terrina ou sopeira), mas com asa só de um lado! A avó explicou-lhe que era gente simples e não deveria saber a que se destinava a louça.
Eu conheci um: era de uma antiga senhora, daqui mesmo, e fazia parte das compras ou presentes do seu casamento. Tinha até uma tampa. Era uma peça bonita, distinta. A louça tinha desenhos em alto relevo também na cor branca. O destino:  urinar e defecar, pois as casas antigas não tinham banheiro. No dia seguinte, alguém ia dar cabo do dejeto, jogando na privada (ou casinha, como era chamada aqui). A privada era construída sobre uma valeta. A limpeza era concluída na "bica" com certeza.
Também era comum o uso de uma bacia e jarro de louça para lavar o rosto e escovar os dentes. Talvez formasse um conjunto com a peça descrita acima. Muitos ainda possuem bacia e jarro e usam como objeto decorativo.
Devia ser assim também na empobrecida Diamantina/MG do final do século XIX, cidade onde morava Helena, a despeito da ostentada riqueza da região  proveniente dos áureos tempos de exploração de diamantes.
Ano passado, adquiri o livro, publicado pela Companhia das Letras. Li tão rápido quanto possível, embora seja um livro para ser lido devagar, degustado, apreciado.
Foi escrito sem pretensão de virar livro. E é um livro de referência histórica de Diamantina.
Helena, por sugestão de seu pai (filho de um médico e fazendeiro inglês que habitara na localidade), começou a escrever sobre os acontecimentos que lhe chamavam a atenção. Suas anotações foram feitas de 1893 a 1895.
Seu "diário" reflete não só sua vida de menina pobre (lar, escola, amigos, brincadeiras...) mas é, também, um retrato do cotidiano da Diamantina do final do século XIX que já possuía Escola Normal (para formar professores) mas ainda não dispunha de estrada de ferro.
Delícia de leitura!
Há quem julgue que houve alguma correção quando Alice, em 1942, consentiu na publicação dos seus manuscritos. Ja era, então, a senhora Alice Dayrell Caldeira Brant, da sociedade carioca.
Eu, particularmente, não penso assim. Ela era uma menina muito esperta e absorvia tudo o que falavam e faziam. Exemplo disto é o termo que ela usou em uma das suas redações - às águas - e que o professor sublinhou e anotou ao lado a palavra correta (aziago). Ela não tinha dicionário, reproduzia, pois, o linguajar do seu meio, com simplicidade e autenticidade.
O valor do livro está na sua linguagem vigorosa e na estrutura de romance.
Tão logo foi publicado, caiu nas graças do público e dos críticos literários.
É considerado um "clássico" da nossa literatura. Imagine a surpresa de Alice!
Procure ler o livro. Você não se arrependerá.






Um comentário:

LUCIA disse...

Por isso é que se deve ler muito,ou pouco se der ,mas ler.Se não fosse sua leitura de tempos ídos nunca ficaria sabendo que alguém teve o desprazer de tomar alimento mo pinico.È verdade que era chique mas a função era a mesma dos pinicos dos pobres.Uma vez ouvi dizer que a tampa do pinico é a nossa b...,segundo o falecido José Vico,ele perguntava a tampa é grande ou pequena,pois havia vários tamanhos.bj. lucia